Uma trajetória de equilibrista
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Será novembro o mês das grandes mudanças? Em qualquer dos casos, as eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro, que deixam transparecer uma América mais dividida do que nunca, poderão contribuir para isso.
Os riscos estão identificados:
- Primeiro do que tudo, são os problemas internos nos EUA, um país polarizado, em que, neste verão, o partido republicano do Texas brandiu a ameaça da secessão, defendendo a ideia de um referendo em prol da independência do “Estado da Estrela Solitária”. Um “Texit” parecenos inconcebível. No entanto, o Texas era parte integrante do México até 1836, ano em que se tornou independente, vindo a juntarse aos restantes estados norte-americanos em 1845.
- Problemas globais associados a focos de instabilidade que se agravam, como seja a guerra na Ucrânia, às portas da Europa, o conflito no Médio Oriente e as tensões em torno de Taiwan.
Embora possa parecer contraintuitivo, uma vitória de Donald Trump poderia, numa certa perspetiva, acalmar as tensões internas e externas. Assim, a nível interno, o risco de contestação dos resultados diminuiria, afastandose também a hipótese de um novo assalto ao Capitólio. A nível externo, Donald Trump, ainda que ameace abandonar a NATO e colocar de facto a Europa numa situação difícil, poderia ser um promotor da paz no Médio Oriente. Recordemos que foi, por várias vezes, nomeado para o Prémio Nobel da Paz pela sua mediação entre Israel e os Emiratos Árabes Unidos, que conduziu à assinatura dos acordos de Abraão, em 2020, na Casa Branca. Hoje e na continuidade desses eventos, Donald Trump teria partilhado com o seu círculo mais próximo a sua intenção de desempenhar um papel determinante na promoção da paz, nomeadamente no Médio Oriente, e assim ganhar (finalmente!) o Prémio Nobel.
É interessante notar que, em meados de outubro, o Prémio Nobel da Economia distinguiu três investigadores, Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson, pelos seus trabalhos sobre o impacto das instituições na prosperidade das nações. Demonstraram que um país dotado de um tecido de instituições sociais e societais sólidas evidencia um desenvolvimento económico maior do que uma sociedade baseada no enriquecimento de uma elite.
Tal explicaria como é que os EUA, colonizados pela Europa há 500 anos, se tornaram, graças ao seu quadro institucional inclusivo, uma nação rica.
No entanto, perante a aceleração da economia chinesa, que se tornou a segunda maior potência mundial sem ter abandonado o seu modelo autocrático, temos razões para nos interrogarmos sobre se, para além das instituições, não é também a estabilidade da liderança nas equipas que desempenha um papel decisivo, nomeadamente na implementação de políticas sociais e ambientais de longo prazo. Atualmente, quase 150 países de todo o mundo estão empenhados na meta da neutralidade carbónica, a maioria dos quais até 2050-2060. Sabendose que, nos EUA, a alternância política tem lugar, potencialmente, a cada dois anos (incluindo as eleições intercalares), como será possível assegurar a continuidade e evitar que políticas fundamentais sejam postas em causa, como aconteceu no início do primeiro mandato de Donald Trump, quando este decidiu retirar os EUA dos Acordos de Paris?
Por enquanto, os mercados financeiros estão a comprar esta ideia de continuidade e não antecipam grandes alterações até às eleições nos EUA. A nova “revolução industrial”, a da inteligência artificial (IA), já está em marcha. No início da época de publicação dos resultados das empresas relativos ao terceiro trimestre, o mercado de ações dos EUA acumulava o seu melhor desempenho anual desde 19971! A descida das taxas de juro, já claramente em curso, representa um catalisador adicional, enquanto o mercado parece estar a integrar plenamente o cenário de uma aterragem suave (soft landing) da economia.
Contudo, a vida dos mercados não é feita de longos períodos de tranquilidade e, nesta edição, analisaremos mais de perto aquilo a que chamamos “trajetória de equilibrista”. As bolsas estão sujeitas a fatores de instabilidade que refletem as revisões dos dados económicos. E se, em última análise, nem tudo correr como previsto?
1 - Desempenho do S&P 500 até meados de outubro de 2024.
Monthly House View, 18.10.2024. - Extrait de l'Editorial
30 outubro 2024