
Os meses de verão foram relativamente calmos para os mercados financeiros, com as ações a atingirem novos máximos em setembro, isto apesar dos fatores sazonais historicamente desfavoráveis. No entanto, os investidores enfrentam um dilema. O crescimento global está a abrandar, ainda que não a afundar, a Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos está a baixar as suas taxas, e as cotações em muitos setores permanecem elevadas ou a níveis pouco atrativos. Esta situação leva muitos investidores a hesitar antes de se envolverem mais no movimento de alta das bolsas.
RISCOS NA FRENTE DO EMPREGO OU NA FRENTE DA INFLAÇÃO?
Por ocasião do simpósio de Jackson Hole, o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, deixou bem claro que as suas atenções se centravam no mercado do trabalho. Embora continuem a ser “bem visíveis”, os riscos inflacionistas são, em larga medida, considerados como pontuais. A fase de abrandamento do mercado de trabalho dos EUA contribui para compensar os riscos inflacionistas. Com abrandamento da imigração, antecipamos, agora, que a criação de emprego nos EUA irá estabilizar a um nível próximo dos 70.000 postos de trabalho por mês, ou seja, metade do ritmo anterior. De facto, o mercado de trabalho constitui o tema incómodo. Um abrandamento mais acentuado poderá afetar o comportamento dos consumidores norte-americanos, mas, para já, os indicadores avançados mostramse resistentes. A redução da taxa da Fed em 0,25% anunciada em setembro era já amplamente esperada. Prevemos mais três reduções em 2025 e 2026, designadamente uma primeira redução seguida por duas outras. A Fed, por sua vez, antecipa, duas primeiras reduções seguidas por uma outra. As expetativas dos mercados de três a quatro cortes em 2026 parecem ser demasiado otimistas (ou pessimistas, em termos de análise económica).
UMA IMAGEM DA ÁSIA
Numa recente deslocação a esta região, foi bem visível uma melhoria do sentimento dos mercados. Neste verão, as ações chinesas beneficiaram de uma nova dinâmica, com os investidores a procurarem capitalizar a emergência da Ásia enquanto alternativa ao “Sete Magníficos” dos EUA na corrida à inteligência artificial (IA). Com cerca de 160 biliões de yuans (mais de 20 biliões de dólares) de poupanças nacionais adormecidas em contas bancárias – dos quais 60 biliões de yuans acumulados desde a COVID-19 –, potencial de crescimento impulsionado pelo mercado financeiro continua a ser significativo. Segundo Francis Tan, o nosso Chief Strategist para a Ásia, as ações chinesas mantêm cotações atrativas, com rácios preço/lucro ainda abaixo de níveis anteriores. Além disso, as reformas introduzidas nos mercados, que incentivam o investimento por parte das seguradoras internas e dos fundos de pensões internos, poderão traduzirse por ganhos suplementares sustentáveis.
Outro aspeto muito importante foi o crescente interesse pela diversificação para além do dólar americano. Pela primeira vez em muitos anos, os investidores asiáticos estão a considerar alternativas, especialmente na Europa. Embora alguns setores, como a banca europeia e a defesa, estejam a atrair as atenções, continuam a existir desafios, como sejam um crescimento limitado dos lucros e a falta de oportunidades no domínio da tecnologia/IA. Mais especificamente, não se trata de uma corrida para vender dólares, mas de uma corrida para obter cobertura contra o dólar. Os investidores procuram cada vez mais rendimentos “puramente” locais, eliminando os riscos cambiais, mesmo que isso implique absorver os custos com as coberturas.
CONTINUAR INVESTIDO
Mantemos posições de risco moderado nas classes de ativos em geral. Relativamente às ações, temos um posicionamento construtivo. Nas obrigações, continuamos a privilegiar o crédito de alta qualidade dos EUA e da Europa (ver “Obrigações de empresas: rendimentos ainda atrativos” na página 10), com particular atenção para o high yield (alto rendimento) na Europa. Também mantemos a nossa posição positiva relativamente à dívida dos mercados emergentes em moeda local, que continua um tanto negligenciada a nível mundial.
Espero que aprecie a edição deste mês, que destaca crescente papel das stablecoins. Ao contrário das criptomoedas voláteis, estas últimas proporcionam uma estabilidade do valor e são cada vez mais utilizadas para pagamentos nos EUA e poderão tornarse detentores de longo prazo de obrigações do Tesouro norte-americano.
Monthly House View, 22.09.2025. - Excerpt of the Editorial
01 outubro 2025