Papai Noel vai chegar mais cedo em 2020?
Monthly House View de dezembro de 2020 da Indosuez - download aqui
O otimismo contagioso do começo de novembro levou ao forte desempenho dos mercados, mesmo com evidências de contração do PIB (produto interno bruno) na Europa no quarto trimestre e dinâmica preocupante da COVID-19 nos EUA. Um coquetel potente composto de política e saúde está compelindo os investidores a enxergarem além dos desafios de curto prazo e a levarem em consideração um panorama mais positivo em 2021.
O risco político desapareceu? As eleições nos EUA concretizaram nosso cenário básico e com uma margem mais limitada do que as pesquisas de opinião mostraram, o que também era esperado. As tentativas de Donald Trump de contestar os resultados provavelmente serão infrutíferas. O risco político parece ter se dissipado junto com a menor probabilidade de aumento de impostos corporativos e estímulo fiscal ambicioso.
Todas as incertezas se desmancharam no ar? Para nós, três elementos de baixa probabilidade devem ser monitorados. Primeiro, o segundo turno das eleições para o Senado na Geórgia — a vitória dos Republicanos é crucial para que o partido continue a liderar o Senado. Segundo, a transição da presidência não será um processo tranquilo. Donald Trump parece disposto a intimidar outros países até seu último dia na presidência. Terceiro, com a pandemia (que continua a todo vapor), qual será a reação do mercado a uma paralisia política com um Congresso incapaz de entrar em acordo sobre medidas emergentes?
A vacina vai mudar tudo? Não, na opinião de Christine Lagarde quando se trata das previsões econômicas do BCE (Banco Central Europeu). Contudo, a realidade é que isso está melhorando significativamente a perspectiva para 2021, com menores probabilidades de outros lockdowns, e maiores chances de uma recuperação cíclica mais ampla. Talvez os comentários de Lagarde se refiram aos riscos de curto prazo, que justificariam a injeção de estímulo adicional.
Da perspectiva de mercado, a vacina muda tudo. Investidores e traders podem ter reagido de modo exagerado ao anúncio surpresa da Pfizer ao descartar de forma impetuosa ações de qualidade e momentum e correr para cobrir suas posições vendidas nos setores value e cíclico.
A sequência de regimes de reflação/Goldilocks1 nas últimas semanas tem sido uma fonte de aborrecimentos para gestores de carteiras, que tinham acabado de remover suas coberturas em tecnologia de olho em um Congresso dividido.
No entanto, esse fluxo de notícias positivas não levará os bancos centrais e governos a interromperem o estímulo tão cedo. Os mercados de crédito estão posicionados para uma prorrogação do estímulo do BCE (Banco Central Europeu), que absorverá uma parte significativa do Grau de Investimento em euros, enquanto as menores taxas de juros estão turbinando as valorizações das ações. Podemos ter tudo ao mesmo tempo? É razoável considerar que podemos ter uma aceleração no próximo ano e uma recuperação de ações value sem aumento da inclinação da curva de juros?
Essa narrativa do Papai Noel depende de uma trajetória estreita que talvez seja sustentável somente durante uma fase temporária: uma recuperação do crescimento mundial sem aumento da inflação. Os bancos centrais já alertaram que errar o alvo da inflação no curto prazo não vai comprometer sua posição acomodatícia. No entanto, controlar toda a curva é outra história. No fim, é um apelo à credibilidade: desde que o mercado esteja convencido de que a vacina não encurtará a orientação futura, não devemos nos preocupar demais com um aumento dos juros. O segundo risco reside nos mercados cambiais. O enfraquecimento agora muito consensual do dólar não deve ser muito rápido ou poderia ameaçar a recuperação há muito esperada das ações europeias. Enquanto isso, o otimismo parece ter antecipado o Natal para os investidores, deixando o Dia de Ação de Graças para trás — o que já foi um ponto de recuperação técnica para os mercados no passado. Como sempre, o longo prazo é mais seguro do que o dia seguinte.
(1) Goldilocks (Cachinhos Dourados): uma economia que realiza um bom desempenho sem criar inflação e que possibilita que os bancos centrais se mantenham acomodatícios: “nem muito quente nem muito frio, na temperatura certa”, como diz o conhecido conto infantil!
Monthly House View de 19.11.2020 da Indosuez, excerto do Editorial
26 novembro 2020